sábado, 16 de janeiro de 2010

Melhorzinha

A médica, que é uma miúda, disse-me que o diagnóstico não era definitivo.
Para conseguir perceber melhor o que se passava teria que falar com a minha pessoa.
Para lhe falar, e para que ela lhe falasse, teria que reduzir a medicação.
E reduziu.
Percebi isso num dia em que a visitei e o olhar dela já encontrava o meu.
Percebi que não estava tão confusa.
Que a memória parecia ter voltado miraculosamente, como se tivesse retomado do ponto onde tinha ficado uns dias atrás.
Perguntou pelas pessoas, falou como se o tempo nunca tivesse avançado.
Isso foi bom.
Para muitos foi óptimo.
Para mim não chegou.
Queria tudo mais rápido.
O pouco, que era muito para todos, era angustiante para mim.
Recusei-me a aceitar uma pessoa melhorzinha.

Todos insistiam nesta palavra.
Eu recusava.
Não a quero melhorzinha.
Quero-a no todo.
É tudo ou nada.
Não aceito o meio termo.

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