terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Um Hospital Muito Pouco Comum

A primeira visita além de estranha é desoladora.
O pessoal hospitalar não mantém, nem faz questão de manter, contacto com a família. Vão muito pouco além do cumprimento social, o boa tarde, como se tivéssemos entrado numa qualquer sociedade secreta em que impera o código do silêncio.
O pavilhão resume-se a umas quantas portas fechadas, um corredor e uma sala maior, a sala de convívio onde vamos poder estar com a nossa pessoa.
Os quartos são interditos.
Nunca soube onde nem como ela dormia.
E lá a trouxeram. Uma sombra de si mesma.
Uma pessoa sem alma como todos os outros com quem me cruzei. Alguém que me sorriu com os lábios mas nunca com o olhar.
E eu lá estive com aquela mulher que me era tão próxima e, ao mesmo tempo, tão estranha naquele momento.
Por aquela altura ainda achava que havia ali um grande equívoco, que estávamos no local errado. As suas ideias estavam completamente baralhadas. Falava-me de visitas que nunca existiram, de pessoas que não via à imenso tempo, pessoas essas que ela achava estarem ou terem estado ali. Ainda hoje não sei se isso devia à doença, se aos medicamentos que lhe deram e que talvez lhe tenham toldado o discernimento. Nos primeiros dias de internamento notei que ela estava completamente dopada.
Não há divisão de género.
Homens e mulheres estão juntos na mesma ala. Homens e mulheres jovens e velhos.
Deambulam pelos corredores numa busca de qualquer coisa que parecem nunca achar.
E ao fim de duas horas tive que sair. Sair e deixar lá uma pessoa que poucos dias atrás era completamente saudável.

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